Existe muito para dizer sobre os hipersensitivos, mas decidi salientar alguns traços que me fui apercebendo em mim, ou que outros me apontavam, normalmente como um defeito.
- Sentir as coisas profundamente, mas ninguém o saber;
Quando tinha trabalhos para apresentar na escola, sentia uma ansiedade avassaladora e uma desconcentração profunda, porque conseguia captar o olhar e o seu significado de cada pessoa da turma. Achava sempre que as apresentações me tinham corrido pessimamente e que tinha corado, mas as notas acabavam sempre por ser boas e inevitavelmente elogiavam-me por estar extremamente calma. A princípio pensei que me estavam apenas a gozar, mas isto foi-se repetindo ao longo da vida adulta e percebi que apesar de estar a explodir por dentro, transparecia calma.
Fui aprendendo a não desabar quando via um animal abandonado, mas ainda me é difícil tirar essa emoção de dentro de mim ou de deixar de pensar neles nos dias de muito calor, frio, chuva. Ou nas pessoas sem abrigo, ou em tantas outras situações de pessoas menos afortunadas que me invadem de tal maneira que me tiram o sono.
Por outo lado, as emoções são tão intensas que é absolutamente impossível exprimi-las na sua totalidade. Quando tento, sinto nos outros aquele olhar de “mas é só isso?”. Aprendi a partilhar com muito poucas pessoas.
Confesso que o facto de parecer calma para o exterior mesmo que esteja a explodir interiormente tem-me dado imenso jeito na vida, mas é absolutamente necessário aprender a equilibrar isso de forma a não sermos inundados e afogados pelas nossas emoções.
2. O ambiente :
O ambiente é imprescindível para pessoas como nós. Trabalhar numa sala com alunos que não conseguem estar calados, ou numa empresa em open space é simplesmente desgastante. Porquê? Mais uma vez estamos a captar tudo. O que os outros sentem, o que transmitem, os detalhes que ninguém repara. Os sorrisos forçados, o dia que não correu bem, a emoção escondida atrás de uns olhos tristes, mas de uma expressão sorridente. Tudo. E é um dos fatores que faz com que a nossa memória não seja fantástica, é impossível reter tudo.
É por isso, que o hipersensitivo se sente mais tranquilo e conectado num ambiente com poucos estímulos. Num ambiente que lhe seja agradável, pois até a cor de uma parede pode ser demasiado agressiva para ter que lidar diariamente.
O trabalho ideal para estas pessoas pode ser a partir de casa ou num espaço decorado por si. Num horário flexível ou feito por eles. A liberdade e autonomia são importantíssimas para estas pessoas. Se forem respeitadas, dão ao mundo coisas que mais ninguém consegue dar.
3 .Incontrolável:
Não conseguimos deixar de ser assim, não conseguimos deixar de sentir tanto. Ainda que a sociedade nos desafie e quase obrigue a sermos quem não somos, é-nos perfeitamente impossível. Muitos tentam, esforçam-se, adaptam-se e o resultado são depressões, esgotamentos, infelicidade e um sentimento de não pertença enorme. Não é fácil o caminho de um hipersensitivo e a ajuda é fundamental. Muitos pais não estão preparados para crianças hipersensitivas, a sociedade só agora começa a despertar para isso.
